Wednesday, July 14, 2004

Não estou assim tão longe



Quando formos um verás desta forma a frente de minha casa. O sol às duas da tarde, o romance depois de almoço, o regresso a casa antes de jantar. As mudanças de luz até apagar.

Como sempre, António

Tuesday, July 13, 2004

Escuta-me com o olhar

Quando desligo o telefone já não estás. Foste.
E foste literalmente. Já estavas a ir, em mim, mesmo antes das férias.

Há destinos para trabalhar.
De telefone na mão, a consciência foge-me para um 22 734 .. .., um número de Espinho. Ligo-te em mensagem, na caixa de correio.
soninha piii
Digo pouco, para mais ninguém ouvir: escuta-me com o olhar. Falo com os dedos em antonio on-line. Fica em antonioonline.blogspot.com

Sou António

Sunday, June 20, 2004

Em mim

Na doçura da palavra escondo-me de ti,aqui, deste lado, onde não me vês, onde o verbo sentir só faz sentido no singular. Pouso um pé, depois outro. Passo a passo, sou eu , quero muito ser eu. Chamas-me.Chamas-me? Desculpa, mas já não sou capaz de te responder. Desta vez, não olho, porque de olhar já me sinto fora de mim. Dás-me a mão para atravessar a rua. Passam os carros numa velocidade estonteante. Correm os rostos nas janelas. Um lágrima cai-me. Abre-se um buraco no asfalto. Mas os carros não param, a rua é cinzenta e a linha branca não permite ultrapassagens. Desculpa-me. Desculpa-me muito porque só assim vou conseguir desculpa-me. E ser eu. Outra vez eu. Sem ti.

Tua Matilde

Saturday, May 22, 2004


Um número directo a ti



Vou à lista telefónica. Abro. Percorro os R..., os B..., os G...detenho-me aí.Soletro baixinho as letras do teu nome. Lembro-me de ti e continuo. Os H trazem-me recordações de dois anos de amores por um tal H começado por H. Achava-o único. Não era. P...percorro os P. P: escola secundária, olhos negros, cabelo liso e muito preto.P.Continuo. Nos N chego à primeira das ilusões. Sorrio baixinho. Ligo ao N?
Quase que fecho a lista telefónica. Olho. Fe..fech...não fecho. Vou ao ínico de tudo. À letra onde regresso de tempos a tempos, como se fosse um passaro perdido em migrações, quando os ventos fortes se levantam. Fico ali deitada no chão com a lista na letra A.
Lembro-me de um A. O primeiro de mim. E depois há outro A. O que me deixou assim. «Não há duas sem três», diz o povo. Percorro com o dedo A a A. Paro num qualquer. António. Quem será? Como será? Ligo. Ligo? Ligo! O que digo? digo? O quê?

22 4576747

Gosto do número. Tem três vezes o número sete. Gosto do sete. Tem dois quatros. Ou seja tem oito. Oito: número que é igual em todas as posições, que dorme e acorda sempre com a mesma cara. 22: patinhos. Dois patinhos. Dois e Dois podem ser quatro. Dois e dois podem ser vinte e dois.

Ligo.

António.

Estou? Olá. O meu nome é Matilde. é o António quem fala?
...
Tou? António? Daqui é a Matilde quem fala, ou melhor, quem quer falar, porque de facto o que me apetece é falar. Falar sobre alguém ou sobre alguma coisa, ou então falar sobre coisa nenhuma. É mania, esta manina que tenho de falar com toda a gente mesmo que não conheça. Mas no fundo não dizem que vivemos numa pequena aldeia global? Nas aldeias todos falam com todos, não é? Não é António? Estou? António? Daqui fala a Matilde.


Matilde.

Thursday, May 13, 2004

o norte do porto

Este vento frio, de cima para baixo, medido na latitude, somos nós.
As três semanas de ausência, e as mesmas de silêncio, prolongam-se na viagem até casa.
Estiveste aqui... já te digo o resto. O telefone tocou

António

Tuesday, May 04, 2004

Dói

Doloroso encontro este, entre as palavras e nós.
Tanto que haveria para dizer neste engasgo de sentimentos que entretanto vou perdendo por aqui e por ali.
Olho-me esta manhã e não te vejo. E já não te via ontem, nem antes de ontem.
Dolorosa forma esta de viver sem ti.
Dolorosa forma esta de doer. E dói tanto.

Tua
Matilde

Wednesday, April 28, 2004

Sónia por acaso

Digo-te adeus num piscar de olhos.
Levo-te em números. Da porta, de telefone. E também da rua, é assim em Espinho.
Voltamos para os nossos, mas levamo-nos um no outro, num silêncio exclusivo dos dois.

Para mim chamaste Sónia há precisamente 7 horas e 30 minutos. Nasceste-me na sala de embarque do José Marti, arrabaldes de Havana. Morena e olhos escuros como eu.

Ao fundo a Verónica não é mortalmente bonita como dantes. Quer-me parecer que não voltará a ser.
Vejo-te em direcção aos braços do Raúl, pode ser uma das últimas vezes assim.

E seguimos os quatro, longe de sermos dois pares. Antes um. Trocado. Não por muito tempo. Já tinha saudades do norte do Porto.

António
Letra a letra

Sem nós. Que é como quem diz, só eu. Há barulho lá fora. Um desfile de universitários passa à frente de minha casa.
Ouço-os e não os invejo. Também eu já passei pelas mesmas loucuras, também eu já tive muita vontade de agarrar o
mundo assim, ao sabor de gritos e fumos, cervejas e noites. Agora isso passou. Agora sou só eu e esta vontade enorme
de viver as letras que aqui e ali vou deixando como testemunho de mudanças.
Há uma janela que me separa do barulho que vem da rua. Um vidro, um simples vidro. E de lá de fora ouço urras, ipp ipp urras!
A musica da rua torna-se cada vez mais forte. Aumento o volume do meu leitor de cds.
O que os faz saltar? O que os faz gritar de alegria? Que mundo esperam? Ouço barulho, muito barulho. Cai-me uma lágrima. Não quero mais passar os dias a aumentar o volume do meu leitor de cds. Imagino o rapaz do ponto de interrogação aos saltos de alegria agarrado a uma rapariga loura e magra, bonita, por sinal. Não é esse o mundo que quero. Não é esse o mundo que me escrevi. E eu escrevo o meu mundo. Letra a letra. Porque aí ninguem pode entrar.Porque só assim faz sentido.

Tua
Matilde

Wednesday, April 14, 2004

Adeus

Trinta e oito anos. Já cá estou. Não doeu. Feriu.
Foi na segunda-feira. Doze de Abril. Tive-te como presente. Um pressentimento de que irias aparecer,
acordou comigo nessa manhã. Não errei. Acabei por adormecer contigo. Foste embora na terça de manhã.
Percebi que era para sempre. Não chorei. Não gosto de chorar. Ficou o teu cheiro. E isso basta-me nesta necessidade
louca de seguir caminho sem ti.
Quase não falamos. Percorri-te numa insatisfação de esperas que só o tempo consegue apurar.
Que saudades.Fixaste os olhos nos meus enquanto os nossos corpos iam deixando de ser dois. Percebi que tinha chegado a hora. Disse-te adeus com um suspiro, sussuraste-me desejos. Quase que te disse « não vás». Mas não consegui.
Ficaram as palavras presas num abraço. A água da banheira fez o favor de fazer o resto e apagar os vestigios do teu corpo quente. Fiquei a ver a água a correr. Bateste a porta. E agora aqui estou eu. Sem nós.

Matilde
Chamada a pagar no destinatário

Dezasseis dias fora do país pode dar para isto. Lembrar-me de ti, a falta do teu cheiro,
o som da tua voz, o movimento das ancas, desenhadas no vestido preto, ao longo do passadiço na praia.
Quando saio, saio mesmo. O telemóvel ficou na cadeira, ao lado da cama onde dormias, debaixo da t-shirt.
E quando acordaste viste-te só nesse dia já muito para trás e nos outros até hoje.

Ligas uma, duas, três, dez, vinte, voltas a ligar, não há mais bateria, ouves-me no voice mail.

Devem ser duas da tarde no Porto. Talvez não estejas, mas talvez sim. Acordam-te, em espanhol, e meia a dormir
meia a sonhar, aceitas-me, falas-me do impossível de tudo isto.

António

Friday, April 09, 2004

Este ano


Estamos na Pascoa. Este ano, ao contrário do ano passado, vou passa-la sózinha.
Não vou estar para ninguém. Nem para a minha irmã, nem para o meu irmão, nem para os meus sobrinhos.
Este ano vou ser só eu. Eu e eu. Sinto um fel que me faz fugir de gente. Estou farta de ouvir palpites sobre o correcto e o errado de tudo.
Quero lá saber. Vou desligar o telefone. Vou ficar comigo e talvez assim encontre o caminho para sair de ti.

Matilde

Thursday, April 01, 2004

Interrogações

Encosto-me no sofá. Ponho o CD que me ofereceste no Natal. Ouço-o e volto a ouvi-lo.
Levanto-me. Vou até ao computador. Alinho os dedos no QWERT. Escrevo-te. Páro a meio e vou até à janela.
Acendo um cigarro, fumo-o devagar, desenho gotículas de água na janela, corações com os dedos. Lá baixo vejo alguém que passa. Um rapaz.
Não deve ter mais do que 27, 28 anos. Tem calças castanhas, camisola azul escura. Um raio branco. Não, não é um raio. É um ponto de interrogação.
Ele caminha e olha para o mar. Pára num quiosque. Compra um jornal. Adivinho-o desportivo. Imigino-lhe as dúvidas, os medos, as euforias, os desejos, os encantos, os recantos. Dá mais dois passos, pára para ler uma página que lhe chama a atenção.
Carros passam a correr do outro lado da rua. Gente e mais gente que se cruza nesta tarde de Abril.
Uma rapariga sentada numa esplanada olha para o rapaz do ponto de interrogação. É bonita, ela. Ele também. Imagino-lhes o futuro.
Um encontro, dois encontros, uma casa, um filho, dois filhos, dois rapazinhos, uma carrinha, um apartamento médio, fins de semana em casa dos pais dela, no Alentejo. Imagino-lhes uma vida. Olho de novo. O rapaz já vai no fundo da rua. A rapariga continua na esplanada. Chega um rapaz. Dá-lhe um beijo nos lábios. Senta-se ao lado dela. O rapaz do ponto de interrogação já não o vejo. Outros e outros rapazes, homens, meninos, velhos, passam por baixo da minha janela.
Ajeito-me de novo no computador. Revejo a rapariga da esplanada e lembro-me que um dia também eu já gostei de estar assim sentada na esplanada à espera de ti em fins de tarde só nossas. Pouso os meus dedos na primeira letra do teu nome. Custa, custa muito. Repito baixinho letra por letra as letras pelas quais te escreves. Um dia também eu e tu já tivemos a idade da rapariga da esplanada e do rapaz do ponto de interrogação.
E também tu lias jornais e paravas nas paginas do Benfica. Toca o telefone. É a minha irmã. Está preocupada comigo.Toca a campainha.
Será que és tu? Não, é o carteiro.

Matilde

Monday, March 29, 2004

Casas comigo?

Estou no Porto.
Peguei no telefone e com um pretexto qualquer liguei-te.
Gosto de ouvir a tua voz. Ainda que seja para me dizer não e não outra vez a convites simples, como tomar café, ir ao cinema.
É um prazer que magoa. Daqui a duas semanas faço 38 anos. Espero-te com um ramo de margaridas à porta, com a tua camisola azul clara - que te fica
tão bem - e talvez me peças para casar contigo! Sim, sim, sim. Se me deres tempo para responder, dir-te-ei sim sim sim.
E prometo que te faço esquecer aquela vez em que te disse não não não.
Desculpa-me. Desculpa-me uma vez e outra vez e as vezes que forem precisas. Tinha tanto medo! Mas agora não tenho.
A unica coisa que tenho é saudades do teu corpo a tocar o meu, do beijo ora suave ora devastador com que me percorrias em brincadeiras loucas de menino.
Daqui a duas semanas faço 38 anos e sonho com o momento em que vais chegar à minha porta com um ramo de margaridas, o teu sorriso envergonhado e me vais perguntar:«Casas comigo?»
E eu caso. Porque tu és o meu unico sentido. Não quero outro. Quero-te a ti.
Dia 12 de Abril faço 38 anos. Não te esqueças.

Matilde

Sunday, March 28, 2004

Prisões

Sentado. O sofá, novo como esta vida nova que começa, endireita-me o olhar.
O mar está a dormir.
Os segredos do ontem, contados na outra praia, conseguem flutuar. Venceram a corrente. Vieram de lá até aqui, como eu. Ainda são eu, os segredos do ontem.
Hás-de levá-los. Aguardas apenas uma ordem. Não dita. Tu sabes.

A Verónica ainda dorme. Não tenho muita vontade de olhar para ela.

António
Lisboa de nós


Lisboa, 1999.
Lisboa, 2004.
Tanto de nós que ficou nesta cor azul do Tejo.
Hoje acordei sózinha num hotel da Praça de Espanha. Não vejo os jornais de ontem espalhados pelo chão, nem as
tuas calças azuis escuras de bolsos encostadas a um canto. Não vejo os teus olhos enormes nem as tuas palavras
a pedir sono na manhã que desponta.
Tanto de nós que ficou nesta água que parece que não corre. Sou metade daquilo que era. Falta o sentido da água, falta
o mar a correr para nós e as mãos com os dedos entrelaçados em ruas que nos levavam a uma qualquer entrada de prédios, onde qualquer metro de espaço servia para amores de corpo e almas numa só.
E o tecto que girava e tu que ficavas assim como quem quer carinhos de menino num corpo de homem.
Lisboa, 1999.
Lisboa, 2004.
Vou para o Porto.

Matilde

Friday, March 26, 2004

Inicio (?)

O cigarro entre dois dedos da mão esquerda,o polegar que o aconchega.
«Importa-se que fume?»
«Sim, importo», respondi.
Olhos muito para além dos olhos. Ele faz girar o cigarro lentamente, bate com ele ao de leve na mesa.
Sorriso em mim. «Então, o que a trouxe até aqui?»
Olho-o novamente. Solto um ´"Hm" de desdém. Sinto-me ficar quente. Levanto-me.Bato com a porta.
Está um dia de sol fantástico. O céu está azul, azul como nunca. Apetece-me chorar. Chorar muito.
Entro no autocarro que me vai levar ao terceiro andar velho de um prédio ainda mais velho desta cidade velha.
Encolho-me em mim. Vejo-me na sombra do vidro.
«O que me aconteceu?», questino-me enquanto provo o sabor de uma lágrima que me escorre.
Sinto a vida correr nos carris e sinto-me perdida.
Lembro-me de ti. Não de agora, de há muito.
«Não achas que devemos falar?»
«Sobre o quê?»
«Disto...»
Pegaste-me na mão. Fizeste-me "Shiu".
Primeiro na cara depois cada vez mais num percurso direito a mim.
A respiração cada vez mais curta. Os passaros em voos lá fora.
"Shiu", fizeste-me.
Baixaste-me no corpo nesse percurso sem portagens.
"Shiu".
Paraste onde não se pára. «Ainda queres falar?»

Matilde

Thursday, March 25, 2004

Psicologias invertidas

Fui com a Ana ao psicólogo. Ele disse-lhe que ela precisa de psicanálise.
Não gostei dele. Trinta anos, mais coisa menos coisa, ar de engatatão.
Esticou-se na cadeira enquanto ela lhe contava que há oito anos que vive com o Osvaldo e que dormem em quartos separados. Ele olhava-a. Consigo adivinhar-lhe os pensamentos. Olhou-me de lado. Perguntou-me a profissão.
Levantou os olhos, disse que era seguidor dos psicalistas, falou de teorias. A Ana pagou 50 euros. Foi para casa a chorar. Merda de vida.
Hoje é dia de primavera. O Douro está cinzento, não sei se é da cor ou desta minha falta de vontade de o colorir.
Se não tivesse detestado tanto o psicologo da Ana esta tarde tinha-lhe telefonado e corrido para o consultório em busca de um divã.
Lembro-me deste dia, deste preciso dia, mas do ano passado. Deito-me no meu divã e choro-te.
Vou telefonar ao psicólogo da Ana.

Matilde


Happy Birthday

Em pé, óculos escuros, mãos nos bolsos, calças largas, descidas na anca, cor de camelo, t-shirt azul escura muita escura. Tem um raio, pelo menos parece um raio ao longe, um raio branco. Tem um raio visto ao longe, um raio que não é raio. É um ponto de interrogação sobre o peito.
Em pé, está o mar ali em baixo, está a areia até ele, suja, muito suja, tão como suja como em todos os 21 de Março. O vento está forte, vem de norte, neste dia, como em todos este dia, dos anos anteriores.
Cabelo castanho, foge para o loiro sem gel, mas castanho assim como está, efeito molhado e escuro. Sapatilhas em azul não tão escuro como o azul muito escuro da t-shirt.
Está sol e frio.

O primeiro dia de alguma coisa é sempre o último de tantas.
Em 27 anos, a primeira prenda de mim para mim. Uma casa. Um quarto, uma sala, uma cozinha, um wc, uma dispensa, uma varanda, um escritório. Um habitante. Eu.
O primeiro dia de alguma coisa é sempre o último de tantas.
É o fim dos dias na Praia da Aguda, do sol nesta esplanada, quase trezentos dias por ano. É mais ou menos sempre que não chove.
Em casa, a cama não volta a aparacer feita, o prato não há-de estar cheio por si só na mesa posta, nem a louça vai estar lavada por magia nos armários.
Em 27 anos, este é o primeiro aniversário, sem jantar de mesas juntas, cheias às dezenas. Hoje não estou para ninguém.
O Porto é silêncio à noite. Já quase não existem carris para o eléctrico. Costumava passar em frente, ali em baixo.
Em pé, cabelo mais aloirado, primeiros toques de bronze, boxers pretos, duas pedras de gelo e whisky na mão direita.

A campainha toca a uma hora em que não é susposto tocar.
É a Verónica, absolutamente fabulosa. Acabadinha de chegar de Lisboa. Acabadinha de sair dos monitores dos estúdios de produção. Diz-me que passou a tarde num vestido curto, preto. Diz-me que passou a tarde ora dentro ora fora de um Peugeot novo que vai ser lançado em Portugal em Abril. Diz-me que ficou perfeito, arrasta-me para o quarto, sem me dizer o quer. Deita-me de costas, amarra-me os braços, um a cada lado da cama e despe-se. Tem uma tanga preta, tão preta como o soutien. Vem para mim, com um lenço na mão. Cobre-me os olhos. Beija-me com o dedo que acabou de beijar e canta, sussura ao ouvido, já em cima de mim: "happy birthday to you, happy birthday to you".
De olhos vendados, vejo-a ficar nua. Em cima e depois em baixo.

António
Web Sex Story
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