Wednesday, April 14, 2004

Adeus

Trinta e oito anos. Já cá estou. Não doeu. Feriu.
Foi na segunda-feira. Doze de Abril. Tive-te como presente. Um pressentimento de que irias aparecer,
acordou comigo nessa manhã. Não errei. Acabei por adormecer contigo. Foste embora na terça de manhã.
Percebi que era para sempre. Não chorei. Não gosto de chorar. Ficou o teu cheiro. E isso basta-me nesta necessidade
louca de seguir caminho sem ti.
Quase não falamos. Percorri-te numa insatisfação de esperas que só o tempo consegue apurar.
Que saudades.Fixaste os olhos nos meus enquanto os nossos corpos iam deixando de ser dois. Percebi que tinha chegado a hora. Disse-te adeus com um suspiro, sussuraste-me desejos. Quase que te disse « não vás». Mas não consegui.
Ficaram as palavras presas num abraço. A água da banheira fez o favor de fazer o resto e apagar os vestigios do teu corpo quente. Fiquei a ver a água a correr. Bateste a porta. E agora aqui estou eu. Sem nós.

Matilde

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