Saturday, May 22, 2004


Um número directo a ti



Vou à lista telefónica. Abro. Percorro os R..., os B..., os G...detenho-me aí.Soletro baixinho as letras do teu nome. Lembro-me de ti e continuo. Os H trazem-me recordações de dois anos de amores por um tal H começado por H. Achava-o único. Não era. P...percorro os P. P: escola secundária, olhos negros, cabelo liso e muito preto.P.Continuo. Nos N chego à primeira das ilusões. Sorrio baixinho. Ligo ao N?
Quase que fecho a lista telefónica. Olho. Fe..fech...não fecho. Vou ao ínico de tudo. À letra onde regresso de tempos a tempos, como se fosse um passaro perdido em migrações, quando os ventos fortes se levantam. Fico ali deitada no chão com a lista na letra A.
Lembro-me de um A. O primeiro de mim. E depois há outro A. O que me deixou assim. «Não há duas sem três», diz o povo. Percorro com o dedo A a A. Paro num qualquer. António. Quem será? Como será? Ligo. Ligo? Ligo! O que digo? digo? O quê?

22 4576747

Gosto do número. Tem três vezes o número sete. Gosto do sete. Tem dois quatros. Ou seja tem oito. Oito: número que é igual em todas as posições, que dorme e acorda sempre com a mesma cara. 22: patinhos. Dois patinhos. Dois e Dois podem ser quatro. Dois e dois podem ser vinte e dois.

Ligo.

António.

Estou? Olá. O meu nome é Matilde. é o António quem fala?
...
Tou? António? Daqui é a Matilde quem fala, ou melhor, quem quer falar, porque de facto o que me apetece é falar. Falar sobre alguém ou sobre alguma coisa, ou então falar sobre coisa nenhuma. É mania, esta manina que tenho de falar com toda a gente mesmo que não conheça. Mas no fundo não dizem que vivemos numa pequena aldeia global? Nas aldeias todos falam com todos, não é? Não é António? Estou? António? Daqui fala a Matilde.


Matilde.

Thursday, May 13, 2004

o norte do porto

Este vento frio, de cima para baixo, medido na latitude, somos nós.
As três semanas de ausência, e as mesmas de silêncio, prolongam-se na viagem até casa.
Estiveste aqui... já te digo o resto. O telefone tocou

António

Tuesday, May 04, 2004

Dói

Doloroso encontro este, entre as palavras e nós.
Tanto que haveria para dizer neste engasgo de sentimentos que entretanto vou perdendo por aqui e por ali.
Olho-me esta manhã e não te vejo. E já não te via ontem, nem antes de ontem.
Dolorosa forma esta de viver sem ti.
Dolorosa forma esta de doer. E dói tanto.

Tua
Matilde