Sunday, June 20, 2004

Em mim

Na doçura da palavra escondo-me de ti,aqui, deste lado, onde não me vês, onde o verbo sentir só faz sentido no singular. Pouso um pé, depois outro. Passo a passo, sou eu , quero muito ser eu. Chamas-me.Chamas-me? Desculpa, mas já não sou capaz de te responder. Desta vez, não olho, porque de olhar já me sinto fora de mim. Dás-me a mão para atravessar a rua. Passam os carros numa velocidade estonteante. Correm os rostos nas janelas. Um lágrima cai-me. Abre-se um buraco no asfalto. Mas os carros não param, a rua é cinzenta e a linha branca não permite ultrapassagens. Desculpa-me. Desculpa-me muito porque só assim vou conseguir desculpa-me. E ser eu. Outra vez eu. Sem ti.

Tua Matilde

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